Adiantado na meta de proteção à Camada de Ozônio, HVAC-R agora foca o aquecimento global

Ainda comemorando seu bom desempenho no Protocolo de Montreal, o setor já encara desafio semelhante para tirar de circulação os HFCs, missão delegada ao mundo pela Emenda de Kigali

 

Cerca de 200 pessoas reuniram-se em São Paulo, nas últimas segunda e terça-feiras (16 e 17/9), primeiramente para comemorar o Dia Internacional do Ozõnio, celebrado no dia 16.Para além da data, o evento celebrou o quanto vamos bem na questão do ozônio.

Mas, já no dia seguinte, e no mesmo local, o assunto seria uma nova e não menos complexa missão: substituir os Hidrofluorcarbonos nos equipamentos de refrigeração e ar-condicionado.

Este clima de festa, mesclado ao de relativa apreensão, deu o tom do evento que foi proporcionado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, em conjunto com o Ibama e as agências implementadoras internacionais PNUD, Unido e GIZ.

Afinal, desde 2017 não havia encontros do gênero, e todos demonstravam engajamento e interesse típicos de quem quer, novamente, fazer o seu melhor.

Antes do prazo – O Brasil tem até 2030 para eliminar o uso dos substitutos dos CFCs, ou seja, os HCFCs, que embora poupem a Camada de Ozônio, possuem Alto Potencial de Aquecimento Global (GWP).

A segunda etapa desse trabalho, que deve se encerrar ao longo deste semestre, está superando as expectativas, conforme explicou durante o encontro o Coordenador Geral de Mitigação e Proteção da Camada de Ozónio do MMA, Érico Rocha. ”Em 2023 reduzimos em 63% o consumo de HCFCs no país e a meta prevista para o ano em curso está apenas 0,5% acima disso”, ou seja, estamos adiantados”.

De acordo com o economista ambiental, os motivos para isso têm tudo para se repetir na terceira e última etapa do PBH – ao longo dos próximos 6 anos -, devido à sua ”implementação sinérgica”. ‘Isso ficou evidente aqui hoje”, disse Rocha, referindo-se ao auditório lotado; à composição da mesa que dirigiu os trabalhos e a cada apresentação realizada, com a presença de representantes da iniciativa privada, instituições de ensino, agências locais e estrangeiras.

”O Protocolo de Montreal é um modelo a ser seguido, e isso se deve, em grande parte, por se basear em metas concretas e estar ancorado em mecanismos dedicados de financiamento”, disse Rocha, em referência ao acordo, que completava seu 37º aniversário naquele mesmo dia.

Ele lembrou ainda que na COP 30, em novembro de 2025, a grande expectativa deve envolver, justamente, o fluxo de recursos dos países desenvolvidos para aqueles em desenvolvimento.

De acordo com o especialista, tal aspecto decorre da aproximação cada vez maior existente entre as agendas do ozônio e do clima, por razões que todos temos, literalmente, sentido na pele.

Partiu Kigali

O segundo e último dia do encontro foi reservado, em período integral, para que todos os presentes – representantes das indústrias, associações, entidades de classe, jornalistas entre outros -, conhecessem melhor a Emenda anunciada em 2016 na cidade africana de Kigali, capital de Ruanda.

Por meio desse acordo, assinado por mais de 170 países e ratificado pelo Brasil em agosto do ano passado, o Protocolo de Montreal incorporou uma série de prazos envolvendo a eliminação gradual também dos HFCs.

A manhã começou com a equipe do MMA e demais entidades enfocando a questão dos refrigerantes em cada um dos respectivos setores, demonstrando os pontos principais da fase preparatória do KIP, sigla adotada para designar o termo Implementação da Emenda de Kigali em nosso País.

Na sequência, durante a mesa redonda “A visão dos setores público e privado e sociedade civil sobre a implementação da Emenda de Kigali no Brasil”, teve início uma etapa de amplo debate, que se estenderia tarde afora.

Na parte final do evento, foram formados quatro grupos temáticos, em que cada qual se reuniu para elaborar suas respostas a uma série de questões propostas relativas aos segmentos de Ar Condicionado (Manufatura); Refrigeração (Manufatura); Ensino, Treinamento, Capacitação e Certificação (Serviços).

Os resumos das conclusões desses grupos foram apresentados no auditório por seus respectivos relatores, momento que marcaria o término dos trabalhos.

Dever de casa – ”Temos agora um grande desafio a ser vencido por meio de ações estruturantes a serem implementadas até 2045 no campo da educação e treinamento”, exemplifica o analista ambiental do MMA, Frank Martins.

Ao mesmo tempo, segundo ele, a indústria será motivada a utilizar fluidos refrigerantes que não destruam a camada de ozônio, como já era de praxe, mas agora também que sejam o mínimo influentes possível no aquecimento global.

No entender de Frank, engajamento é a palavra-chave diante de objetivos de tal envergadura, a exemplo da intensificação da eficiência energética.

Contudo, constatar o estado de ânimo positivo dos participantes dos dois eventos deixou a equipe do Ministério otimista.

”Quando a gente tem o setor privado caminhando ao nosso lado, deixa de ser uma ação do MMA para ser de todos, e o resultado é bem mais positivo”, diz ele.

”Agora, nós vamos chegar a Brasília com o dever de casa de pegar todos esses resultados, compila-los e, a partir disso, definir a nova estratégia de ação, agora envolvendo o PIK”, acrescenta o analista.

De preocupante, mesmo, nesse cenário todo, ele identifica questões conjunturais como o custo ainda elevado de novas tecnologias. Outro desafio considerável é a necessidade de fortalecer a área de capacitação no país inteiro e não apenas nas capitais.

“Mas, no tocante às boas práticas na recuperação de fluido, prevenção de vazamentos e realização correta de instalações, por intermédio de cursos de 30, 40 horas, isso deve ser viabilizado pelas agências implementadoras internacionais”, tranquiliza Amorim.

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