Falar do início da refrigeração para conservação de alimentos e citar seus experimentos, suas tentativas e descobertas realizadas é mais do que descrevê-las. É prestar homenagem a esses homens do passado, que abriram caminho para o desenvolvimento da humanidade através da refrigeração e dos muitos benefícios que ela nos proporciona. Para efeito de tributo, mais do que oportuno, é necessário registrar o nome da primeira embarcação frigorífica que aportou na América Latina: Le Frigorifique.
O jornal portenho La Nación, em sua edição de 28 de dezembro de 1876, estampava na primeira página a manchete “A propósito del Frigorífico”. E dizia na abertura da reportagem “…Não foi esperada com mais expectativas em Atenas o navio de Teseu, que devia anunciar aos filhos de Ática a morte do Minotauro, do que tem sido o Frigorífico para os filhos do Prata.” Naquela data, o jornal falava da chegada ao porto de Buenos Aires do navio Le Frigorifique. Embarcação de fabricação inglesa, com capacidade de 1200 t, e uma velocidade de seis nós por hora. Vindo de Rouen (França), sua chegada foi ansiosamente aguardada pelos portenhos, em particular pelos bonaerenses dedicados à pecuária. Mas o quê havia de tão surpreendente naquela embarcação que movimentou toda a Província? A expectativa especial era o fato de que a embarcação tinha capacidade de transportar carnes e outros alimentos resfriados. E carne era e é um dos principais produtos de exportação da Argentina. À frente do Le Frigorifique, achava-se Charles Tellier, francês, nascido em Amiens, em 29 de junho de 1828. Mais moço, Tellier ajudava seu pai, colaborando em uma indústria têxtil de propriedade da família. Com a chegada da Revolução de 1848, essa empresa faliu. A partir daí, o jovem dedicou-se ao que realmente gostava: estudar assuntos diversos sobre mecânica industrial. Isto o levou a construir um barco em 1856, em que a refrigeração
Mas, novamente, Tellier persistiu. E partiu rumo à Argentina, onde a chegada do barco era aguardada com muita expectativa. Sua entrada foi saudada com alvoroço. Faltava a grande prova, a grande demonstração de que o sistema de refrigeração era eficaz. E ela aconteceu no mesmo dia de sua chegada. Como comemoração, registra-se que em 28 de dezembro de 1876, a bordo do Le Frigorifique foi oferecido um almoço a diversas personalidades. A reportagem de um jornal portenho da ocasião dizia: “…O banquete da prova começou. Depois de algumas hors d’oeuvre, um filé de vaca resfriado. Após 105 dias de viagem, chegou fresco a Buenos Aires. Os convidados saborearam excelente Filé de Chautebriand com trufas a la Perigord, embarcado em Lisboa há 55 dias. Ovos à la Broche. Igualmente com 105 dias de armazenagem. Todos esses pratos foram encontrados magníficos: a carne tão fresca, tão suculenta, como a que se vende todos os dias no Mercado”. Pouco depois, em um porto argentino Le Frigorifique se faria o primeiro carregamento de carnes que navegariam rumo à França. E Charles Tellier entrou para a História como o Pai do Frio.
- TEXTO: CRISTIANE DI RIENZO. PROIBIDA A REPRODUÇÃO PARCIAL OU TOTAL SEM AUTORIZAÇÃO DA AUTORA.OUÇA ESTA E OUTRAS HISTÓRIAS EM NOSSO PODCAST MUNDO DO AR E DA REFRIGERAÇÃO.
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