Mercado livre de energia – Fora os ganhos comerciais, a modernização do sistema elétrico tende a beneficiar o País como um todo. Sobretudo, nos preços e na qualidade dos serviços entregues. Diante de um mercado com diversos “gargalos” na transmissão para escoamento da energia e com alta necessidade de modernização em toda a cadeia, geração, transmissão e distribuição, os consumidores no geral estão longe de estar satisfeitos. Especificamente na distribuição de energia – parte da cadeia que entrega a energia no ponto de consumo – o sistema é gerido por poucas empresas. Segundo uma pesquisa da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), oito entre dez brasileiros acham o preço da energia elétrica caro ou muito caro. Para 53%, o motivo é justamente a falta de opção na escolha da empresa fornecedora de energia. Por isso, acredito que para impulsionar a modernização do sistema elétrico é fundamental a abertura total do mercado de energia, migrando de um modelo atual mais centralizado para um modelo híbrido. Outro fator é uma regulamentação mais robusta para diversos tipos de produtores, onde as grandes concessionárias de energia assumem a responsabilidade por orquestrar esse mercado. Além de aumentar a disponibilidade e qualidade da energia, abre espaço para uma diversificação de matrizes energéticas e fortalece o quesito renovável, que possui grande potencial no Brasil. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), até 2019, a matriz nacional foi
Descarbonização – Outro fator crucial na modernização dos sistemas de energia é a descarbonização. Diminuir a utilização de hexafluoreto de enxofre (SF6), por exemplo, pode representar grande avanço para o mercado, principalmente para a indústria. Esse é um gás de efeito estufa listado no Protocolo de Kyoto e ainda bastante utilizado no segmento elétrico. No entanto, ainda há alguns desafios a serem ultrapassados quando falamos em net zero. Segundo levantamento da Disclosure Insight Action (CDP), até 2050, para o Brasil alcançar esse status, seriam necessárias algumas mudanças estruturais – como evitar que aproximadamente 21 bilhões de toneladas de CO2 sejam lançadas na atmosfera no período. Além disso, seria preciso que o setor energético alcançasse emissões negativas após 2035. Como um voto de confiança, atualmente, conseguimos perceber uma mudança na percepção das empresas sobre sustentabilidade. Este movimento é observado mais fortemente no setor industrial, mas já há discussões nas companhias de energia. Para alavancar ainda mais este movimento, é fundamental o desenvolvimento de uma regulamentação que incentive as concessionárias a investir em sustentabilidade, tanto quanto em confiabilidade e qualidade. O mercado brasileiro leva o tema cada vez mais a sério e, com isso, os investimentos em ações ambientais, mas intenso no setor privado, estão se tornando uma “prova” do avanço de cada planta perante investidores e até mesmo consumidores. Portanto, avançar com a modernização do sistema elétrico, incluindo soluções sustentáveis, é um caminho sem volta. A demanda tende a aumentar a cada ano e o mundo corporativo tem claramente uma grande responsabilidade e um papel maior de agente transformador.
POR: Leandro Bertoni, vice-presidente da divisão de Power Systems da Schneider Electric para a América do Sul